O que são “ocupações” e por que elas são o coração da Terapia Ocupacional?

Quando se ouve a palavra “ocupação”, é comum pensar em trabalho. Mas, na Terapia Ocupacional, o significado vai muito além disso. Ocupação para nós é tudo aquilo que você faz no seu dia a dia: desde as atividades que preenchem seu tempo às que dão sentido à sua vida.

Escrevi esse artigo, para explicar detalhadamente o que são as ocupações na perspectiva da Terapia Ocupacional, como elas são classificadas e de que forma a TO atua em cada uma delas. Além disso, você vai poder entender melhor sobre o processo de avaliação centrado na pessoa, adaptações, uso de órteses, tecnologia assistiva e exemplos reais de transformação através das ocupações. Vamos lá?

As principais áreas de ocupação segundo a Terapia Ocupacional

A Terapia Ocupacional atua para manter, recuperar ou adaptar as ocupações da vida. A AOTA (Associação Americana de Terapia Ocupacional) classifica essas áreas em categorias que ajudam a entender onde e como o terapeuta ocupacional pode intervir, divididas em Atividades de vida diária (AVDs) e Atividades instrumentais de vida diária (AIVDs).

As atividades de vida diária (AVDs)

São as atividades mais básicas para o autocuidado, como:

  • Tomar banho
  • Se vestir
  • Ir ao banheiro
  • Comer e engolir
  • Higiene pessoal
  • Mobilidade funcional (andar, se sentar, levantar)
  • Atividade sexual

Em outras palavras, são ocupações essenciais para a independência e dignidade.

As atividades instrumentais de vida diária (AIVDs)

São atividades um pouco mais complexas e que exigem organização, planejamento e, muitas vezes, o uso de tecnologias:

  • Cuidar da casa e dos outros
  • Fazer compras
  • Preparar refeições
  • Usar celular e internet
  • Gerenciar medicamentos
  • Cuidar de animais
  • Praticar atividades religiosas ou espirituais
  • Garantir a própria segurança (ex: desligar o fogão)
  • Sono e descanso (descansar ao longo do dia, preparar-se para dormir, ter uma noite de sono reparadora)
  • Educação (envolve participação em ambiente escolar formal, cursos informais e atividades de aprendizagem)
  • Trabalho e produtividade (emprego formal ou informal ou voluntariado, atividades que geram sentido, estrutura ou renda)
  • Brincar e lazer
  • Artesanato
  • Música
  • Esportes
  • Participação social
  • Viver em família
  • Ter amizades
  • Participar de grupos e comunidades

A importância de uma avaliação centrada na pessoa

Tudo começa com uma escuta atenta: “O que é importante para você?“. Esse é o ponto de partida para qualquer plano terapêutico. Antes de pensar em exercícios, técnicas ou recursos, é preciso conhecer a história, a rotina e os desejos daquela pessoa e, por isso, a avaliação centrada no cliente garante que o tratamento seja realmente significativo.

Muitas vezes, duas pessoas com o mesmo diagnóstico vão ter objetivos completamente diferentes. Enquanto uma quer voltar a cozinhar, a outra quer conseguir brincar com os netos ou escrever com a mão dominante. O contexto também muda tudo, ambiente familiar, acessibilidade da casa, rede de apoio, tipo de trabalho, entre outros fatores.

Por isso, é importante que a avaliação não seja limitada a testes ou protocolos. Envolve observação, escuta, conversa e, principalmente, empatia. A partir desse olhar individualizado, o terapeuta ocupacional traça um plano de intervenção que respeita os limites, valoriza as potencialidades e foca no que realmente importa para aquela pessoa.

Intervenções para apoiar a retomada das ocupações

A intervenção da Terapia Ocupacional é sempre adaptada à realidade e à meta de cada pessoa. Para apoiar a retomada das ocupações, o terapeuta ocupacional pode utilizar diferentes ferramentas e abordagens, sempre baseadas em evidências científicas e na escuta ativa.

Entre as intervenções mais utilizados estão:

Treinamento de habilidades motoras e sensoriais: fortalecimento muscular, mobilidade, coordenação motora fina e grossa, estimulação e reeducação sensorial, melhora no processamento sensorial.

Adaptação do ambiente: ajustes no mobiliário, uso de utensílios facilitadores, mudanças ergonômicas e acessibilidade.

Tecnologia assistiva: uso de equipamentos, dispositivos e softwares que promovem independência na realização das atividades.

Confecção de órteses sob medida: feitas com material termoplástico, diretamente na pessoa, para melhorar a função, reduzem dor, previnem deformidades e dão suporte adequado para atividades significativas.

Esses recursos são escolhidos com base no que é mais funcional e importante para cada paciente. Em vez de propor tarefas aleatórias, a TO trabalha com foco no que você quer (ou precisa) voltar a fazer e como podemos viabilizar isso com os recursos certos.

Tudo é feito com base em evidências científicas e respeito à singularidade de cada pessoa.

Exemplos reais que já atuei

Ao longo da minha trajetória, vivi momentos muito marcantes. Histórias de pessoas que, através da Terapia Ocupacional, conseguiram resgatar o que dava sentido às suas vidas como:

  • Uma paciente que voltou a tocar piano com uma órtese feita especialmente para isso. Ver a emoção dela ao conseguir tocar novamente foi inesquecível.
  • Um paciente que sofreu um AVC e, após um processo de reabilitação e adaptações na cozinha, conseguiu cozinhar novamente para a família. Isso o fez se sentir útil e reconectado com seu papel familiar.
  • Um idoso que, com treinamento e adaptação, conseguiu voltar a escrever com sua mão dominante. Algo simples para muitos, mas extremamente simbólico para ele.

Esses são apenas alguns exemplos do impacto real da Terapia Ocupacional. Cada história traz um significado único, uma conquista pessoal que vai muito além da função física.

Percebe que a TO não olha só para o movimento ou para o diagnóstico? É um olhar para aquilo que é importante para cada pessoa. Se você ou alguém que você conhece sente dificuldade para realizar atividades do dia a dia, saiba que você não precisa lidar com isso sozinho. A TO pode ajudar.

Quais são as ocupações mais importantes da sua vida hoje? Como seria poder retomá-las com segurança, autonomia e significado?

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